segunda-feira, 7 de novembro de 2016

UM SONHO, INICIO DE LIVRO?


Da primeira vez,entrei em uma casa grande,moderna e de portões altos e
estruturalmente bem feitos. Entrei,fui para uma sala e sentei-me com a mulher
que aparentemente havia me convidado tomando chanpagne por um longo
tempo, conversando sobre coisas da vida, e da poesia que lá, naquela casa, se
encontrava. Então levantei- me e comecei a andar pela casa. Vasculhá-la.
Entrei nos quartos e era uma casa realmente muito grande,mas muito linda
com os raios de sol iluminando cada móvel que lá estava. Eu procurava por
algo. No segundo andar abri todas as portas,até que parei para observar uma
delas. Dentro do minúsculo quarto que não daria mais de um metro por um
metro estava um filtro de barro para água todo coberto de plantas e musgos
que dele fizeram sua morada. E, naquele pequeno quarto,somente isso existia,
somente isso respirava. Não era isso que eu buscava. Continuei abrindo as
portas, e muitas portas depois encontrei. A mesma mulher estava lá. Sentada
dentro desse quarto pequeno, tomando calmamente sua bebida direto da boca
da garrafa. Ali nada me dizia, nada me contava, mas no intimo eu sabia que
aquela mulher carregava um filho em seu ventre. Entrei, e lá, naquele quarto
com camas brancas e sempre bem arrumadas fiz minha morada. Por muitos e
muitos anos.
Da segunda vez, entrei na casa e ninguém me viu,exceto um clone de mim que
vinha atrás de tudo que eu fazia. A noite era obscura e impiedosa, e todo o
andar de baixo tinha um cheiro de cabelos queimados, morte pura e
instantânea. Nessa noite eu não abri portas, apenas escutei gritos e gemidos
indistinguíveis. Passei por todas as portas de madeira e apenas fui
sorrateiramente até o final do longo corredor de sofrimento e angustias dos
viventes, sempre olhando para trás e vendo uma sombra grande de chapéu
grande e de roupas largas, que ninguém me disse, ninguém me avisou, mas eu
sabia ser eu. No final do grande corredor havia um grande jardim,não era
iluminado mas sua paz invadia todo ser que respirava. O jardim era verde e
cada minuto que passava, para mim, ele cintilava mais. Então,ali,resolvi fazer
morada por muitos e muitos anos.
Da terceira vez entrei também a noite,mas estava ainda mais escuro e os gritos
eram ainda mais fortes. O cheiro era de uma lavanda limpa, de roupa bem
lavada. Agachei e fui passando por entre os corredores, mas dessa vez,abrindo
as portas. Encontrei inúmeras salas vazias,grandes e pequenas,algumas
tinham livros,chamadas bibliotecas, e outras apenas candelabros no chão com
velas já gastas e chulas. Sabia eu que procurava algo bom,até que passei por
uma porta onde um menino lia um livro,e do lado dele pois havia uma porta que
brilhava muito,sem ao menos dar para ver o outro lado. Em minha mente eu
sabia que não deveria atrapalhá-lo,mas meu clone,ele havia de fazê-lo. Assim
que me dei conta,olhando para trás e vendo algo que eu sabia ser eu entrando
na sala,comecei a correr incansavelmente. Virei à direita e continuei. Depois de
muito correr, abri uma porta de uma sala qualquer e entrei. Assim que entrei, a
porta desapareceu,abrindo uma outra porta ao final dessa sala. Dei um passo
em direção a ela e a mesma se abriu. Mas abriu com a força de um
impacto,havia sido aberta por uma menina. Mas ela, de vestido rosa e laço no
cabelo, parecendo de fato uma pastora de ovelhas, com as mãos para
baixo,chorava muito. Ia questioná-la quando reparei dois braços empurrando-a
para a sala. Dois braços fortes, pretos como um carvão mineral, suas veias
saltavam e notavelmente via-se não se tratar de algo plenamente humano, mas
nem de longe sobrenatural. A menina colocou toda sua força para trás e
escapou das mãos enormes que a seguravam,fechando a porta. Mas essa
situação durou segundos,logo as mãos a empurraram com mais força e ela
entrou violentamente na sala,caindo e levando tudo que havia pela frente.
Desesperei-me. Queria ajudá-la,mas percebi que minha vida ali também estava
em perigo. Virei-me e vi,meu clone. Eu vi sua face. Se eu pudesse me
lembrar,certamente o descreveria com detalhes. Mas não se parecia
comigo,mas algo me dizia, sem ninguém dizer, que se tratava de nada além de
mim. Ele desferiu um golpe com algo cortante e eu cai,sem tempo de ver o que
havia me acertado. Senti dor. Mais umas duas vezes me atingiram e então
acordei.
Mas bem eu sabia,que nessa altura, tudo se tratava de sonho.
Então acordei em uma cama branca e bem arrumada,levantei-me e me sentei
na mesa para comemorar o aniversário de duas mulheres,uma mais nova e
outra mais velha,as quais eu sabia,sem ninguém me dizer, que eram a mãe e a
filha. E lá, vivi por muitos e muitos anos.

O jardim das delícias terrenas, Bosch 
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