domingo, 31 de dezembro de 2017

BOATOS&ABSTIDOS – FLORA e o FUTURO

⇢  Flora cresceu em meio a poliglotas, circulando entre mestres do êxito acadêmico,
influentes, anuentes, viciados, extravagantes, conscientes
misturada a artistas natos, esbarrando em políticos altiloquentes
Sabia de cor, porque lhe disseram, o percurso do rio e seus afluentes
contaram-lhe as glórias magníficas dos grandes impérios sólidos
as descrenças do mundo e também de sua particularidade cíclica de vida e morte 
Explanavam como memorizar, repetir, contar, medir,
e trezentos anos antes de legislar os processos nervosos, 
encapsularam a psykhé, processaram  mecanicamente o sentir
O que dizer e quando falar permitido por coleira,
efervescência lirista mas também a cólera do que era vívido dez anos atrás,
suscitava-se então uma perspectiva insana, l’acte cruel, the cruel act

Flora, a menina que luta e que tem nome
que aliás é Flora
lindo nome  

tem nome e lutará 
contra a maldição do século
o male de sua época

o generalizar. ⬸



  ↳ D’ANGELO ↲
     
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M



domingo, 17 de dezembro de 2017

TESEPARAESTAMPAROVERSODALISTATELEFÔNICA2018.doc


            Setenta e oito anos após a segunda grande guerra, vinte anos de “Sobrevivendo ao inferno”, quinto álbum dos Racionais, cento e dezessete anos após o nascimento de Louis Armstrong e sessenta e sete anos após o invento ilustre que é a televisão, resolvo eu, amadora cínica, falar de amor. Parece vago, sinistro e dispensável, e se realmente já pensa meu texto enquanto mais um poema romântico mórbido tal qual Augusto dos Anjos, o que não seria tão tedioso a alguns, desengane-se, ele é de bem menor valor.
            De repente, no auge da madruga, em um quinto de segundo meu cérebro de pronto ativa doze regiões diferentes e libera substâncias como dopamina, adrenalina e ocitocina. 
Se amor é desejo, sinto amor por muita gente. Se amor é dor, sinto-o até em demasia. Se o amor é sentir falta, o sinto verdadeiramente por uma pessoa só. Duvido essencialmente que seja um sentimento explicado satisfatoriamente por meio de verbos, adjetivos e conjunções. Duvido até que Deus possa explicar sua própria criação. E se Deus, que é onisciente, é um dos poucos leitores certos dessas linhas, o questiono nesse instante: O que é essa turbulência que me invade e rebaixa minhas fundamentalidades até somente me restar como essencial a presença que ela deixa, sem culpa, ou por culpa minha, faltar?  E agora? Diga-me de que valem as letras, a história, a dialética, a retórica, os bons costumes e a indiferença, o anarquismo, o movimento de translação, o avanço da tecnologia, chá preto, goró, cannabis sativa, indica ou ruderalis, a cabine telefônica, o parto normal, os refugiados sírios e o governo federal, a universal ou a promiscuidade múltipla residente permanente na calada dum canavial? De que me é útil a revolução industrial, a revolução dos bichos ou a evolução da espécie? De que me vale um lápis apontado se a inspiração caminha com ela, em seus braços, e de que adianta a comicidade velha da barba por fazer nos poros do busto forte de uma mulher barbada, se já não vejo graça, se ela me levou a lógica, me tirou a métrica, me arrancou as molas, e deixou somente esse divagar melancólico que agora vos apresento com total insensatez, descaradamente desiludido na flor dum tempo renascente, que logo trará um ano novo, e com ele outros feitos e aniversários histórico-pragmáticos incríveis e decadentes.
            No ano de eleger o novo e ético, (São meus votos compartilhados), presidente da república, que será Lula, se não o assassinarem antes, (Desculpem-me a franqueza rápida), juntamente também da celebração intensa que é o aniversário de vinte anos da famigerada e inexistente consciência cristã, (Que apenas por um ano não pode se candidatar a prefeito ou a juiz de paz), desejo que me falte ar nas traqueias, que me falte água para regar as plantas, que falte teoria, (mas não práxis), que me falte roupa, modos e assunto, entretanto, como apenas se aprofunda e aumenta gradativa e pontualmente no prazo de doze meses a água das geleiras e o buraco na maldita camada de ozônio, e como envelhecem as moças e prosas, e como morrem os deuses e os astronautas, que não caia sobre mim essa maldição, e que eu não passe outro coágulo de tempo sem olhar no fundo dessas tuas esferas negras e dizer o quanto foi bom te amar de longe, porém que comparado a te amar de perto é apenas estória, falsete, comentar também o quanto foi ruim, no ano passado, celebrar o amor ao tempo, simplesmente festejar o jubileu de carvalho ostentado pela guerra completamente desacompanhada, e escrever a porra de uma tese inteira sobre não estar amando horrores ao seu lado.


Quem sabe ano que vem passa. 





Telephones (anticipation) -NIYAZ NAJAFOV





segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

SAL GROSSO

ASSUNTOS – 11/12/2017 – SAL
          
  -Crio com magnificência meu demônio particular, alimentando-o calmamente com tragos e goles diários. Em troca, a malícia que nele consta me sobe à boca nas horas mais oportunas, toma meu corpo e o mexe como quer, aluga-se de minha mente pra travar estratégias malignas e empíricas, e nas sextas à noite me acompanha até o cerne de qualquer prostíbulo do interior. Em suas veias bombeia com graça o sangue do meu útero metafísico, (Aquele que eu não tenho, por desgraça do destino), e em vez de lágrimas, descama os olhos sempre que se entristece, e deles escorre o véu carmesim de minha menarca finalmente concebida pelo Deus que mais me toca.
-Se ele não acertou, me responsabilizo eu por consertar a merda do senhor.  – Disse o médico cético.
- Tua ciência é tão esquizofrênica quanto um supremo que peca propositalmente. – Disse o esquisito do paciente – Sou assim e assim o sou, infelizmente. Mas se quiser tentar fazer sua medicina ajudar, queria uma lavagem completa, pra expulsar alguns intrusos que perambulam pela minh’alma insensata...
- Para esse procedimento recomendo algo mais intenso...
- Intenso?
- É a ultima carta na manga.
- Qual!
-Te digo, ora.
-E seria?
- Sal grosso.
- Li ontem que Iodo também barra conversão ideológica e cura hipocrisia.
- Só expulsar demônio que é novidade?
- Relaxa, doutor. Tá quase na hora de entrar no mar.

D’ANGELO