domingo, 17 de dezembro de 2017

TESEPARAESTAMPAROVERSODALISTATELEFÔNICA2018.doc


            Setenta e oito anos após a segunda grande guerra, vinte anos de “Sobrevivendo ao inferno”, quinto álbum dos Racionais, cento e dezessete anos após o nascimento de Louis Armstrong e sessenta e sete anos após o invento ilustre que é a televisão, resolvo eu, amadora cínica, falar de amor. Parece vago, sinistro e dispensável, e se realmente já pensa meu texto enquanto mais um poema romântico mórbido tal qual Augusto dos Anjos, o que não seria tão tedioso a alguns, desengane-se, ele é de bem menor valor.
            De repente, no auge da madruga, em um quinto de segundo meu cérebro de pronto ativa doze regiões diferentes e libera substâncias como dopamina, adrenalina e ocitocina. 
Se amor é desejo, sinto amor por muita gente. Se amor é dor, sinto-o até em demasia. Se o amor é sentir falta, o sinto verdadeiramente por uma pessoa só. Duvido essencialmente que seja um sentimento explicado satisfatoriamente por meio de verbos, adjetivos e conjunções. Duvido até que Deus possa explicar sua própria criação. E se Deus, que é onisciente, é um dos poucos leitores certos dessas linhas, o questiono nesse instante: O que é essa turbulência que me invade e rebaixa minhas fundamentalidades até somente me restar como essencial a presença que ela deixa, sem culpa, ou por culpa minha, faltar?  E agora? Diga-me de que valem as letras, a história, a dialética, a retórica, os bons costumes e a indiferença, o anarquismo, o movimento de translação, o avanço da tecnologia, chá preto, goró, cannabis sativa, indica ou ruderalis, a cabine telefônica, o parto normal, os refugiados sírios e o governo federal, a universal ou a promiscuidade múltipla residente permanente na calada dum canavial? De que me é útil a revolução industrial, a revolução dos bichos ou a evolução da espécie? De que me vale um lápis apontado se a inspiração caminha com ela, em seus braços, e de que adianta a comicidade velha da barba por fazer nos poros do busto forte de uma mulher barbada, se já não vejo graça, se ela me levou a lógica, me tirou a métrica, me arrancou as molas, e deixou somente esse divagar melancólico que agora vos apresento com total insensatez, descaradamente desiludido na flor dum tempo renascente, que logo trará um ano novo, e com ele outros feitos e aniversários histórico-pragmáticos incríveis e decadentes.
            No ano de eleger o novo e ético, (São meus votos compartilhados), presidente da república, que será Lula, se não o assassinarem antes, (Desculpem-me a franqueza rápida), juntamente também da celebração intensa que é o aniversário de vinte anos da famigerada e inexistente consciência cristã, (Que apenas por um ano não pode se candidatar a prefeito ou a juiz de paz), desejo que me falte ar nas traqueias, que me falte água para regar as plantas, que falte teoria, (mas não práxis), que me falte roupa, modos e assunto, entretanto, como apenas se aprofunda e aumenta gradativa e pontualmente no prazo de doze meses a água das geleiras e o buraco na maldita camada de ozônio, e como envelhecem as moças e prosas, e como morrem os deuses e os astronautas, que não caia sobre mim essa maldição, e que eu não passe outro coágulo de tempo sem olhar no fundo dessas tuas esferas negras e dizer o quanto foi bom te amar de longe, porém que comparado a te amar de perto é apenas estória, falsete, comentar também o quanto foi ruim, no ano passado, celebrar o amor ao tempo, simplesmente festejar o jubileu de carvalho ostentado pela guerra completamente desacompanhada, e escrever a porra de uma tese inteira sobre não estar amando horrores ao seu lado.


Quem sabe ano que vem passa. 





Telephones (anticipation) -NIYAZ NAJAFOV





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