sábado, 8 de abril de 2017

AS OBSCURAS MORTES DE JANIS JENNY

Eles sabem que estou aqui. Suscito a idéia de me jogar da janela, acabaria com todo esse maldito fenômeno que virou minha vida pra baixo nas últimas semanas. Não tenho pra onde ir e agora eles sobem pelas escadas. escuto vários passos pesados, não há o que fazer, tenho de me entregar. E pensar que era um plano perfeito. Um único erro fez com que tudo implodisse ao chão. A tortura era franca, de fato, mas prometemos não entregar uns aos outros. Não a culpo, também. Sabe se lá como arrancaram isso dela. Eles chegaram! Batem na porta compulsivamente, gritam em uma língua que eu desconheço, pela fresta da porta creme de madeira reflete a última linha fraca e tênue de luz esperançosa que promete extinguir-se ao primeiro sinal da sombra densa tomar aquele ambiente. O abajur diz com seus tons preguiçosos que deseja a inexistência, como eu, como parte do mundo que apenas queria fazer as coisas do jeito certo, porém resolveram arriscar em nome de sua fome, de seus filhos. E agora pra mim, ajoelhada, encaro a porta a ser estraçalhada do modo quadrúpede, a patadas e estocadas de madeira, chutes, coronhadas pesadas das armas que vão em breve perfurar e atravessar meu crânio frágil de humano inútil, espalhando esse líquido azul pelo chão, essa tinta de caneta, meu sangue que carrega minhas singularidades fúteis neste mundo infeliz e injusto. Eis que é chegada a hora. Meus demônios abrem a porta e partem ao meu encontro.
  • Ora ora, senhora. Finalmente nos encontramos pessoalmente.
  • Vocês são nojentos. Verei todos no inferno.
  • O inferno é lugar pra gente grande, moça. Você vai voltar pro ensino médio.
  • Bom humor vocês têm, mas apenas isso.
  • Quando eles descobrirem que dessa vez não foi por amor, talvez liberem te mais uma vez.
  • Pecado é pecado. Sabe que vou passar por tudo outra vez. Só queria verdadeiramente o esquecimento. É tão difícil descansar em paz em vez de simplesmente morrer outra vez?
  • Da próxima tente overdose.
          
                    (clek clek, shot)



Amor do próximo como a ele mesmo


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