quinta-feira, 20 de abril de 2017

MARVIN, A VIDA É PRA VIVER

-Ridícula!
A mulher era muito ridícula mesmo.
-Ingrata, maldita!
E a cada palavra era um objeto arremessado na parede do quarto da amada. Severina ali não estava presente, mas as lembranças eram mais marcantes,na maioria das vezes,  que a própria presença da garota.
-Desgraçada! Vadia!
Põs-se a chorar. Os cabelos cobriam-lhe a realidade póstuma do coração, escondiam as expressões de dor, criavam uma cúpula mágica que dava segurança e conforto, limites pra visão, para os sentimentos fulminantes que ali culminavam em sua trajetória sutil pela estrada quente do sangue nas veias. Arrastou-se na parede até o chão. Seu proposito de vida havia desmoronado. Tinha construído seus sonhos por ela, sua vida para ela, seu mundo em torno dela. Agora tudo que restava era a solidão de si para consigo mesma.
Com ira, olhou pela janela do apartamento. Aberta, soprava o vento da liberdade sobre o chão de madeira castanho-infinito. Suscitou a idéia de voar pela janela e ir morar no ar. Subitamente essa idéia tomou-a. Olhou novamente para a janela, e no vidro refletia Severina, como um chamado para o fim de todas as coisas que temos por eternas.
Marvin correu rapidamente na direção do reflexo, tudo parecia finalmente coerente em sua cabeça. Iria fazer o certo para sentir-se melhor. pra recomeçar.
-Paraaa!!!!
Na metade do caminho a moça atira o vaso de flores na janela que estilhaça e reluz em centenas de pedaços o que já foi inteiro. Vira o rosto e vê a genitora do reflexo, parada, sem reação, de braço estendido e boca semi cerrada.
-Na hora que sair, Severina, recolha os cacos e apague a luz.

D'ANGELO

A historic black and white photo of a woman wearing a cowboy hat and a riding


Alone

Um comentário:

  1. Jamais tentaria entender essa realidade vestida de poesia que desfila pelo labirinto da tua alma. Mas, com toda sinceridade, ponho-me a admirá-la.

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