domingo, 21 de maio de 2017

OUTORGADA: LEI DO AMOR PRÓPRIO

- Declaro, a partir da expedição desse documento, que é proibida toda forma de amor não reciproco. 

Dito isso, o senador ajeitou a gravata. Tossiu três vezes e voltou a ler. 
- É, além de uma questão de ética e moral, saúde publica. O amor, quando não é bilateral, adoece.

Passou a mão no topete e limpou a testa com um lenço azul bordado com suas iniciais. 
- Também está proibido toda e qualquer forma de contato após uma resposta carregada de indiferença. E, ao ser ignorado, deverá permanecer em igual silêncio e não renunciar com chamadas carinhosas de atenção e retorno, ou terá adição de crime hediondo.

Suava frio, estava tenso. A lei tinha mais que um impacto nacional, o afetava diretamente.
- Esclarecidos os termos, outorgo a presente lei na presente data. 

Na verdade só tinha um peso pessoal. Osmar gostava de pensar seu relacionamento como o estado, parecia de menos complicada estruturação, de menos corrupção dos fundamentos.
Na frente do espelho fazia seu discurso, encarando seus olhos, sua própria vitalidade. 

Era difícil decidir, mas não é tudo que se pode estabelecer a partir de autenticação em cartório. Percebeu então que seu casamento não tinha saída.
Percebeu que o seu país sim, tinha futuro. Largou o terno, pegou sua velha boina vermelha no fundo do guarda roupa. 


Desceu as escadas, juntou-se a multidão
Foi lutar pelo seu amor,
Mas só pelo amor que julgava valer a pena
- Viva a revolução

D'ANGELO


The Yellow Man (in Portuguese: "O Homem Amarelo"), Anita Malfatti, Brazil, 1915-1916




Pintura Mural em Lisboa, Centro de Cultura popular de Alcântara - As Paredes da Revolução, Graffiti, 1978




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