Dito isso, o senador ajeitou a gravata. Tossiu três vezes e voltou a ler.
- É, além de uma questão de ética e moral, saúde publica. O amor, quando não é bilateral, adoece.
Passou a mão no topete e limpou a testa com um lenço azul bordado com suas iniciais.
Suava frio, estava tenso. A lei tinha mais que um impacto nacional, o afetava diretamente.
- Esclarecidos os termos, outorgo a presente lei na presente data.
Na verdade só tinha um peso pessoal. Osmar gostava de pensar seu relacionamento como o estado, parecia de menos complicada estruturação, de menos corrupção dos fundamentos.
Na frente do espelho fazia seu discurso, encarando seus olhos, sua própria vitalidade.
Era difícil decidir, mas não é tudo que se pode estabelecer a partir de autenticação em cartório. Percebeu então que seu casamento não tinha saída.
Percebeu que o seu país sim, tinha futuro. Largou o terno, pegou sua velha boina vermelha no fundo do guarda roupa.
Desceu as escadas, juntou-se a multidão
Foi lutar pelo seu amor,
Mas só pelo amor que julgava valer a pena
- Viva a revolução!
D'ANGELO
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The Yellow Man (in Portuguese: "O Homem Amarelo"), Anita Malfatti, Brazil, 1915-1916 |
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Pintura Mural em Lisboa, Centro de Cultura popular de Alcântara - As Paredes da Revolução, Graffiti, 1978 |
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